Considerado uma espécie de cassino virtual, o “tigrinho” se propaga no País com a ajuda de influenciadores digitais. Como é considerado jogo de azar, quem faz a propaganda do “tigrinho” pode incorrer em contravenção penal, além de crimes contra o consumidor e estelionato. Também se multiplicam as tentativas de golpes para se aproveitar dos apostadores e as operações policiais que miram os criminosos.
Uma família de Sorocaba (SP) joga o “tigrinho’” desde o início do ano e relata uma rotina de perdas e ganhos. Os quatro familiares – a mãe, dois filhos e duas noras dela – seguem influenciadores que postam os jogos com aposta mínima de R$ 10. Neste domingo, 24, o filho e a nora da dona de casa tiveram os jogos bloqueados depois de depositar R$ 300 para resgatar um suposto ganho de R$ 4.060.
“Ele ganhou R$ 2.460 e ela R$ 1.600, mas não conseguiram sacar. Ele tinha depositado R$ 100 e ela, R$ 200, mas foram bloqueados. Era golpe”, disse a mulher que pediu anonimato “por vergonha”.
O filho dela, que fez o depósito de R$ 100, disse que, quando atingiu o valor mais alto, foi informado por um suposto auditor que sua conta tinha sido bloqueada por segurança e colocada sob “controle de risco”. O pedido inicial foi de um depósito de R$ 200 para liberar o saque.
Caso não fizesse, o dinheiro continuaria preso para sempre. Ele foi convencido a pôr mais dinheiro, até ser informado do bloqueio permanente da conta, a menos que depositasse R$ 700. “Esse valor será adicionado à sua conta e não à conta de outra pessoa. Fique tranquilo, nossa plataforma vem de um país respeitável”, escreveu o golpista.
A vítima revelou que todos na família jogam, menos seu pai. “Eu jogo, meu irmão joga, minha mulher, minha mãe, minha cunhada. Mas jogamos no risco de ganhar ou de perder. Muitos amigos também jogam. A gente joga consciente”, disse.
Especialistas, porém, alertam sobre os riscos à saúde desse comportamento compulsivo, que deve crescer com a popularização dos games on-line. No Brasil, a estimativa é que de 1% a 1,3% da população tenha problemas patológicos relacionados ao hábito.
O vício em apostas é um transtorno reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Veja sinais de alerta:
Necessidade crescente de apostar, com valores cada vez maiores;
Alteração de humor (irritabilidade, agitação ou tédio) quando tenta interromper o ciclo de apostas;
Insucesso no controle das apostas, com tentativas repetidas e frustradas de larga vício;
Pensamento e planejamento constantes sobre os próximos atos de apostar;
Angústia, tristeza ou ansiedade ao tentar se divertir ou sentir prazer sem apostar;
Pensamento irreal de que tem a capacidade de “recuperar o prejuízo” com mais apostas;
Mentiras: comportamento antissocial e negação do problema, com tentativas de tentar minimizar a frequência das apostas até para pessoas próximas;
Comportamento de risco: arrisca aspectos e relações importantes da vida como finanças, emprego, progresso acadêmico ou relacionamento afetivo em favor das apostas;
Falência: depende de outras fontes de renda para sustentar o vício.
O Fortune Tiger, mais conhecido no Brasil como ‘jogo do tigrinho’, foi desenvolvido pela PG Soft, empresa com sede em Malta. O game pode ser acessado até mesmo pelos celulares mais básicos e passou a ser promovido por influenciadores digitais em suas páginas nas redes sociais. Para aliciar os seguidores, os influencers passaram a postar fotos e vídeos simulando ganhos rápidos e fáceis.
Uma influencer de 20 anos, com mais de 300 mil seguidores, foi alvo de operação da Polícia Civil em São José dos Campos (SP). A investigação aponta que ela teve ascensão patrimonial “meteórica” adquirindo, em pouco tempo, carros de luxo, moto aquática e uma casa em condomínio de alto padrão.
Conforme a SSP, são investigados supostos crimes contra o consumidor, contra a relação de consumo, contra a economia popular, lavagem de dinheiro e contravenção penal por divulgar em redes sociais jogos de azar.
Em maio, a Justiça do Paraná expediu mandados de prisão e de buscas contra três influenciadores que atuavam em uma plataforma que direcionava seus seguidores para o ‘jogo do tigrinho’. Só um deles tinha mais de 500 mil seguidores e movimentou, em alguns meses, R$ 8,5 milhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.