A marca das enchentes de maio no Rio Grande do Sul permanece profunda: 1.791 pessoas ainda não conseguiram reconstruir suas vidas e continuam vivendo em condições precárias em abrigos, seis meses após o desastre. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social do estado, são 40 abrigos em 23 municípios.
Entre os locais mais afetados está Encantado, no Vale do Taquari, com 221 pessoas em abrigos. A dona de casa Fabiana de Paula perdeu a residência na enchente de setembro de 2023 e estava em um abrigo da prefeitura. A enchente de maio invadiu o local, e ela perdeu tudo mais uma vez.
Em um novo abrigo, com o marido e os dois filhos, ela relata os momentos de medo e incerteza que vive desde então.
"Não está sendo fácil aqui dentro. É tanto tempo que a gente está aqui... É calor, ninguém respeita mais ninguém, todo mundo com [os nervos] à flor da pele. É bem cansativo", desabafa.
Como tantos outros, Fabiana espera por uma solução do poder público. Um levantamento feito, aponta que o governo federal prometeu o investimento de R$ 2 bilhões para a compra de 10 mil residências aos atingidos pelas enchentes. Já o governo do estado prometeu R$ 66,7 milhões em moradias.
Enquanto espera, Fabiana sonha conseguir um local para dormir tranquila com a família, sem medo de mais uma chuva.
"Eu quero minha casa própria, poder deitar com meus filhos e não mais me preocupar, deitar, dormir e dizer assim: 'pode chover que não tem mais perigo'", diz Fabiana.
O governo federal já autorizou o repasse de verbas para construir 7,5 mil casas. O governo do estado, por sua vez, entregou 212 casas temporárias, que recebem famílias antes da contrução dos imóveis definitivos.
A dona de casa Bruna Vitória de Oliveira vive em uma dessas residências temporárias há cerca de um mês, em Cruzeiro do Sul, também no Vale do Taquari. Até então, ela estava em um abrigo, onde deu à luz ao filho, Benjamin.
"É muito melhor que estar dentro de um ginásio. A gente agradece por ter um cantinho, ter a privacidade, mas a gente tambem reza para ter a nossa casa de volta", diz.
No auge da enchente, o estado somou quase 80 mil desabrigados. O número foi caindo desde então.
O trabalhador autônomo Tiago Jesus da Silva, por exemplo, ficou durante um mês em um abrigo de Porto Alegre. Ele já conseguiu um lugar para morar, mas ainda busca se reerguer.
"Estamos tentando, estamos 'se' levantando. O cara faz o que pode. Várias instituições que trouxeram doações para nós, muita gente ajudou", diz.