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Adolescente de 16 anos morre uma semana após cesariana em hospital no RS; polícia investiga suposta negligência

Família alega que adolescente não teria recebido o devido atendimento, teria demorado a passar por exames e sido submetida a procedimentos não autorizados.

Publicada em 05/06/2025 as 06:19h por Por João Pedro Lamas, Madu Brito, g1 RS
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 (Foto: Reprodução)

A Polícia Civil investiga a morte de uma adolescente de 16 anos uma semana após dar a luz no Hospital Sapiranga, na Região Metropolitana de Porto Alegre. A família de Kauany Ventura de Vargas suspeita que ela tenha morrido por negligência médica. Além disso, documentos atestam que ela teria passado por procedimentos não autorizados pela família, o que o hospital nega.

 

 

Conforme o atestado de óbito, a morte aconteceu em 17 de maio por choque séptico, insuficiência respiratória aguda, septicemia abdominal e infecção uterina.

 

 

Ela havia dado a luz no dia 2 de maio. Cinco dias depois, a família conta que ela procurou atendimento porque estava sentindo dor, mas foi orientada a ir para casa e voltar em dois dias, porque o médico responsável pelo parto não estava presente. Quando voltou ao hospital, foi internada.

 

 

"Kauany retornou na sexta (9) com a cesárea aberta e com muita febre", disse a advogada da família, Diânifer Soares.

 

 

Entre 10 e 11 de maio, Kauany passou por exames, no dia 12 passou por cirurgia e, então, dia 17, morreu. O bebê passa bem.

 

 

"Acreditamos que ela teria desencadeado uma grave infecção, a qual não teve o tratamento adequado, tendo em vista que o médico responsável não teria pedido exames quando da internação de Kauany. Foram realizado exames apenas na madrugada de sábado para domingo", diz a advogada.

 

 

A reportagem, o Hospital de Sapiranga esclareceu que Kauany recebeu alta hospitalar em 3 de maio e retornou à unidade no dia 7 com um quadro de "seroma – acúmulo de líquido comum no pós-operatório".

 

 

"Ela foi atendida no plantão da obstetrícia, onde o profissional de plantão avaliou a situação e não identificou sinais infecciosos, apenas inflamatórios, indicando, portanto, tratamento com anti-inflamatório e curativos duas vezes ao dia. Este atendimento ocorreu antes da necessidade de uma nova internação. O relato técnico sugere que, naquele momento, a conduta adotada foi compatível com o quadro clínico apresentado", informa o hospital, em nota.

 

 

O Hospital de Sapiranga lamentou a morte de Kauany, prestou solidariedade à família e disse que "vem fazendo tudo que está ao seu alcance para esclarecer cada ponto, sendo que desde o início mantém uma postura ativa de escuta, cuidado e empatia com os familiares, prestando todo apoio emocional e psicológico".

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Investigação policial

 

 

O delegado Clóvis Nei da Silva, responsável pela investigação policial, disse que um familiar da vítima registrou o boletim de ocorrência e que "há um inquérito em andamento para apurar o fato".

 

 

"[Queremos] verificar se houve negligência médica durante o período de tratamento. Será colhida prova testemunhal e documental. O inquérito é para investigar os fatos e suas circunstâncias. Serão ouvidas testemunhas de interesse à investigação", disse.

 

 

 

 

 

 

 

 

Procedimento não autorizado e exumação do corpo

 

 

Familiares de Kauany receberam do próprio Hospital Sapiranga um documento que atesta que ela teria passado por uma laqueadura, procedimento que não foi autorizado por eles.

 

 

Já o Hospital de Sapiranga alega que o procedimento não ocorreu e que houve um erro na redação do documento.

 

 

"A respeito da inconsistência na documentação médica que apontava indevidamente a realização de um procedimento de esterilização (ligadura tubária) sem consentimento, garante que isso não ocorreu, decorrendo o nome incorreto do procedimento de equívoco provocado, possivelmente, por uma seleção automática indevida nos campos de texto pré-formatado disponíveis no sistema eletrônico", informou, em nota, o hospital, pedindo desculpas à família e garantindo revisar protocolos de atuação.

 

 

Apesar disso, a família tem dúvidas e solicitou à Justiça a exumação do corpo para confirmar o que de fato foi feito. A autorização ocorreu em 30 de maio. Uma data para a exumação ainda não foi marcada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Médico afastado e sindicância no Conselho de Medicina

 

 

Na última segunda-feira (2), a família foi informada pelo hospital que, uma semana após a morte de Kauany, o médico responsável pelo parto "afastou-se de suas atividades de forma voluntária e de comum acordo com a instituição, para que a apuração pudesse ocorrer com total isenção".

 

 

Em paralelo à apuração do hospital, o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) instaurou uma sindicância para apurar o caso. O órgão não divulgou detalhes porque "corre em sigilo por força de lei", mas disse que tem 180 dias para ser concluído e pode resultar em um processo ético-profissional.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O que diz o Hospital de Sapiranga

 

 

"O Hospital Sapiranga, com imenso pesar e respeito, se solidariza com a família da paciente Kauany Ventura de Vargas, cuja perda precoce a todos entristece profundamente, e, em nome de toda a sua equipe médica, assistencial e administrativa, expressa seu apoio e acolhimento neste momento de imensurável dor.

 

 

Sabe-se que nada pode amenizar a dor dessa perda. Contudo, além de sua solidariedade à família de Kauany, o Hospital Sapiranga vem fazendo tudo que está ao seu alcance para esclarecer cada ponto, sendo que desde o início mantém uma postura ativa de escuta, cuidado e empatia com os familiares, prestando todo apoio emocional e psicológico.

 

 

E diante desse triste episódio, julgou essencial apresentar à sociedade, com máxima transparência, responsabilidade e sensibilidade, alguns esclarecimentos:

 

 

 

 

 

1. O que aconteceu.

 

Kauany foi admitida na instituição para realização de parto, sendo a via cesariana uma escolha discutida com a equipe médica, formalizada em termo de consentimento livre e esclarecido, assinado pela paciente e responsável. O procedimento foi realizado de forma tecnicamente adequada, por equipe especializada, dentro do tempo recomendado pelas diretrizes obstétricas para casos não emergenciais.

 

 

A paciente recebeu alta hospitalar dois dias após o parto, sem sinais de intercorrências clínicas. No entanto, alguns dias após a alta, retornou ao hospital apresentando sintomas compatíveis com quadro infeccioso, que evoluíram progressivamente, culminando em uma infecção uterina grave.

 

 

Diante dessa evolução do quadro, foram adotadas todas as condutas cabíveis: nova internação, ajustes terapêuticos com antibióticos de amplo espectro, exames de imagem, cirurgia de urgência e suporte intensivo em unidade de terapia intensiva. Ainda assim, apesar dos esforços institucionais e da atuação dedicada das equipes assistenciais, a paciente evoluiu para um quadro de sepse grave, indo a óbito.

 

 

É importante esclarecer que infecções são riscos inerentes a qualquer procedimento cirúrgico, mesmo quando realizados com excelência técnica. Embora todos os cuidados preventivos tenham sido adotados, não foi possível identificar um fator único e determinante para a infecção uterina.

 

 

Após análise minuciosa do prontuário e condutas adotadas, o Hospital Sapiranga compreende que a trajetória clínica seguiu parâmetros técnicos adequados. Ainda assim, reconhece a importância de constante revisão e aprimoramento dos processos, o que vem sendo conduzido com seriedade e responsabilidade.

 

 

 

 

 

 

 

2. Registro incorreto do nome do procedimento no prontuário.

 

 

A respeito da inconsistência na documentação médica que apontava indevidamente a realização de um procedimento de esterilização (ligadura tubária) sem consentimento, garante que isso não ocorreu, decorrendo o nome incorreto do procedimento de equívoco provocado, possivelmente, por uma seleção automática indevida nos campos de texto pré-formatado disponíveis no sistema eletrônico.

 

 

Pedimos desculpas públicas à família por esse erro material quando da seleção do nome do procedimento, reiterando que o prontuário constitui um documento essencial para garantir a clareza, confiança e dignidade no cuidado do paciente, entendendo que esse lamentável equívoco contribuiu para gerar dúvidas e sofrimento adicional à família.

 

 

Como ação imediata foi: (a) iniciada uma revisão de todos os protocolos do sistema de registros; (b) implantada uma segunda etapa de confirmação das informações assistenciais lançadas nos documentos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3. Ações já realizadas e outras iniciativas que serão implementadas:

 

 

• O profissional envolvido afastou-se de suas atividades de forma voluntária e de comum acordo com a instituição, para que a apuração pudesse ocorrer com total isenção;

 

 

• Reforçados os treinamentos internos sobre escuta ativa de sinais de dor e desconforto, implantação de escalonamento, o que será incorporado aos ciclos contínuos de educação médica;

 

 

• Intensificadas as auditorias clínicas e revisões de casos de risco em comitês multiprofissionais;

 

 

• Estabelecido canal direto com a família para prestar acompanhamento contínuo e responder dúvidas futuras.

 

 

• Realizada apuração interna com apoio da direção, equipe médica e assessoria técnica.

 

 

• Colaboração com as autoridades competentes para o total esclarecimento dos fatos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4. Compromisso permanente com segurança e transparência

 

 

Nosso compromisso institucional permanente com a segurança do paciente. Trata-se de uma instituição acreditada no Nível 2 pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), reconhecimento que reafirma sua atuação comprometida com qualidade, gestão integrada e melhoria contínua.

 

 

Desde o início, o Hospital Sapiranga tem buscado agir com humanidade, empatia e respeito à dor dos familiares. A equipe de Experiência do Paciente mantém contato direto com a família, promovendo escuta ativa, esclarecimento de dúvidas e apoio emocional.

 

 

Foi oferecido acompanhamento psicológico aos familiares, assim como atendimento pediátrico para a criança recém-nascida, medida tomada independentemente de qualquer apuração de responsabilidades, por entender que o cuidado não termina no tratamento clínico, mas se estende à dignidade humana em todas as suas dimensões.

 

 

Apesar do cumprimento técnico dos protocolos aplicáveis, o Hospital Sapiranga reconhece que essa fatalidade exige mais do que justificativas. Ela exige humildade, escuta e transformação, e, por isso, reafirma seu compromisso inegociável com a segurança do paciente, com o acolhimento das famílias e com a ética em cada conduta profissional.

 

 

Direção Técnica e Executiva

 

 

Hospital Sapiranga

 

 

Sapiranga, 02 junho de 2025".




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