Um vídeo feito pelo g1 mostra como foi o primeiro voo experimental de um "carro voador" no Brasil (assista acima). O modelo EH216-S, o eVTOL (sigla em inglês para "veículo elétrico de pouso e decolagem vertical") da empresa chinesa EHang, foi testado em Quadra, no interior de São Paulo, na manhã de sexta-feira (20).
Durante o teste, foram realizados dois voos curtos, de 10 minutos cada, em um clube de voo do município. Não havia nem tripulação e nem passageiro na aeronave, que foi pilotada e comandada remotamente.
Os voos experimentais foram presenciados pela imprensa e por especialistas do setor. Nenhuma intercorrência foi registrada.
O modelo EH216-S
O eVTOL EH216-S pode transportar até duas pessoas, com uma carga útil total de 220 quilos e um alcance de cerca de 30 quilômetros. Ele opera com 12 baterias independentes e 16 motores.
O piloto não voa dentro da aeronave, pois o eVTOL é operado remotamente e automaticamente a partir do solo, por meio de um sistema inteligente de comando e controle. Isso permite que o piloto planeje, comande, valide, execute, monitore e controle o voo em tempo real, mesmo sem estar no "carro voador".
O sistema de aeronave não tripulada eVTOL EH216-S é o primeiro de seu tipo no mundo e promete revolucionar as viagens aéreas urbanas globalmente. Desde dezembro de 2023, o carro voador vem sendo apresentado ao público em eventos, com o objetivo de aproximar a nova tecnologia da sociedade.
De acordo com uma pesquisa da MundoGeo, empresa do segmento de tecnologia que promove inovações e negócios nos setor, o Brasil é o terceiro maior mercado para eVTOLs no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e China. A tecnologia é voltada, principalmente, para grandes metrópoles, como São Paulo, e áreas remotas com falta de infraestrutura no Brasil.
Fila de espera
A chinesa EHang conta com duas representantes comerciais no Brasil: a AT Global e a GoHobby, que pediram autorizações de voos experimentais à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Após conseguir a autorização, a GoHobby fez o primeiro voo sem passageiros do Brasil na sexta-feira, em Quadra.
De acordo com o CEO da GoHobby, Adriano Buzaid, o "carro voador" custa US$ 600 mil e já tem fila de espera no Brasil, mesmo sem uma previsão exata de quando começará a voar com passageiros.
"A aeronave é vendida a US$ 600 mil. Hoje, a GoHobby faz uma pré-venda para pessoas interessadas e coloca as pessoas em uma fila. Já existe essa fila. Quando certificar, obviamente os primeiros serão os primeiros a receber. As vendas estão indo muito bem", garante.
Segundo o CEO, os principais interessados na compra são empresas de logística, de táxi-aéreo e turismo.
Adriano não detalhou o valor do investimento da empresa em torno do negócio, nem quanto deverá custar a viagem para os passageiros.
Certificado para voos tripulados
Conforme Adriano, o certificado que permitirá voos tripulados do eVTOL EH216-S no país deve demorar de um a dois anos para ser emitido. Ele acredita que o prazo será parecido com o das aeronaves tradicionais.
"É uma aeronave nova no mercado. Se a gente comparar com aviões, geralmente demora isso [até dois anos]", opina.
Ainda segundo ele, a Anac tem um acordo de cooperação com a instituição chinesa que regula o setor e pode haver uma troca de informações entre elas. Na China, a empresa já tem o certificado para voos tripulados.
Com relação à manutenção do "carro voador", Adriano explica que serão abertos vários pontos em todo o Brasil, pois a ideia é que não seja concentrada em um local ou cidade específica. Ele não deu detalhes sobre as primeiras cidades onde ocorrerão investimentos da empresa.
Função em terra
Adriano Buzaid foi o primeiro brasileiro a pilotar um EH216-S no país. Giovan Pereira de Alencar, que também é brasileiro, foi o comandante que operou a aeronave remotamente.
O comandante, que também é piloto há 46 anos, explica que, a exemplo dos voos tradicionais, os momentos que exigem mais atenção com o eVTOL são o pouso e a decolagem.
"Segurança é a palavra de ordem. Apesar de que, com 16 motores, mesmo com a parada de alguns motores, a aeronave reage muito bem", comenta.
"A gente faz monitoramento, a autonomia da aeronave, o que está na frente, se tem outra aeronave vindo para ela preparar uma evasiva. Se aparecer alguma coisa, a gente tem condições de mover a aeronave de uma lado para o outro, para a aeronave subir ou descer. Mas a aeronave tem condições de fazer tudo automaticamente, nós somos um backup", continua.
Ainda conforme o comandante, o monitoramento em terra serve para a comunicação com os passageiros e para tranquilizá-los, por exemplo, quando houver outra aeronave próxima.
Em caso de qualquer problema, os pilotos recebem, em terra, mensagens que podem ser de várias cores. As azuis, por exemplo, são para o conhecimento da pessoa que está monitorando, sem a necessidade de qualquer ação.