As câmeras corporais usadas pelos dois policiais envolvidos na morte do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, gravaram o momento em que ele é baleado quando estava encostado em um portão trancado de hotel, sem possibilidade de sair, em novembro do ano passado, na Zona Sul de São Paulo.
Marco Aurélio chega a dizer repetidamente "tira a mão de mim" momentos antes de ser morto e o policial Guilherme Augusto Macedo, autor do tiro, ameaça dizendo ao estudante "que ele vai tomar [tiros]". As imagens foram anexadas no relatório final do inquérito da Polícia Civil.
Na quarta-feira (8), após o relatório final o MP denunciou os dois policiais militares por homicídio qualificado. Na última sexta-feira (3), a Polícia Civil pediu a prisão preventiva do soldado da Polícia Militar Guilherme Augusto Macedo por atirar e matar o estudante.
As câmeras mostram que a viatura da PM seguia pela rua quando os agentes viram Marco Aurélio Cardenas Acosta andando sem camiseta. Um dos policiais diz "vamos seguir esse moleque. Só quero ver se ele vai levar uma". Em seguida, é possível ouvir um barulho na viatura, momento em que Marco deu um tapa no retrovisor da viatura.
Na sequência, os policiais correm atrás dele e um diz: "Você vai se fuder, filho da puta. Deita senão você vai tomar, você vai tomar, deita. Você vai tomar."
Já no hotel, para onde Marco entrou, o policial continua a falar "você vai tomar, você vai tomar". No vídeo, é possível ver que o estudante estava encostado no portão trancado do estabelecimento. Ele resiste à abordagem do outro PM, quando é baleado.
Mesmo com ele baleado, caído no chão e sem oferecer resistência, o policial continuou a ameaçar o jovem. "Se você se mexer você vai tomar mais um."
Marco Aurélio diz apenas "tira a mão de mim". O PM ainda questionou por que o estudante deu um tapa na viatura.
Em um áudio encaminhado à reportagem, o pai do estudante, o médico Julio César Acosta Navarro, 59, chora e pede a condenação dos policiais. "Tempos de guerra da maldade, da criminalidade contra a nação, contra os inocentes", disse.
No relatório, o delegado Gabriel Tadeu Brienza Viera, do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), afirmou que, apesar de o estudante ter reagido à abordagem policial, o PM "assumiu o risco do resultado morte, porque usou ilegitimamente a arma de fogo para repelir uma suposta ameaça".
Ainda conforme o relatório final, as imagens das câmeras corporais mostraram que o estudante tentou entrar no interior do hotel, mas não conseguiu devido ao portão estar fechado. Ele resistiu a abordagem e falou: "tira a mão de mim. tira a mão de mim".
"O policial militar que se encontrava no motorista chega para auxiliar na abordagem, mas tem seu pé retido por Marco Aurélio, até que é empurrado e cai ao solo, simultaneamente ocorre o disparo de arma de fogo por parte do outro policial", aponta o relatório.
O policial já havia sido indiciado no inquérito policial militar (IPM) por homicídio doloso e permanece afastado das atividades, assim como o PM que o acompanhava no dia do ocorrido.