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General quatro estrelas tirado da cama cedo pela Polícia Federal é tudo o que o Exército não precisava

Operação da da PF confronta a honra militar do Exército

Publicada em 19/02/2024 as 13:44h por Redação O Sul
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 (Foto: Reprodução)

General quatro estrelas tirado da cama cedo pela Polícia Federal é tudo o que o Exército não precisava. A Força, que teve parte de sua cúpula ocupando os principais postos da gestão de Jair Bolsonaro, acordou há duas semanas sendo obrigada a sentir o gosto amargo de ter aderido ao capitão que um dia fora considerado indigno de vestir a farda.

 

A memória fez apagar o que, em 2021, o repórter Rubens Valente resgatou por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) no acervo do Exército. Deve-se ao jornalista a publicidade do “Noticiário do Exército” divulgado em 25 de fevereiro de 1988 e que trazia o título “A verdade: um símbolo da honra militar”.

 

O que está estampado na capa da publicação editada pelo Centro de Comunicação do então Ministério do Exército é lição de como a cartilha castrense preza a verdade e a hierarquia. Dito de outra forma, mentira e insubordinação são inadmissíveis na caserna. Se um subordinado mente, não pode estar ao lado dos seus. Numa guerra, como confiar a própria vida ao colega que não honra a palavra que dá? O ensinamento é levado às academias militares.

 

O episódio da década de 1980, para quem não se lembra, envolve o capitão Bolsonaro e um colega. Os dois deram entrevista à revista Veja e noticiou-se a ideia de um plano de explosão de uma bomba para causar tumulto. Bolsonaro era aquele que ousara reclamar publicamente dos baixos soldos ainda como militar. No mundo sem internet e redes sociais, falar à imprensa sem autorização do superior era conduta vedada nas Forças Armadas.

 

Um processo disciplinar foi aberto e Bolsonaro, condenado. Chamado a se explicar, mentiu para o comandante. E isso ficou registrado no texto do Noticiário do Exército para que toda a tropa soubesse que o comando estava naquele momento expulsando da Força o mentiroso. O mesmo que anos mais tarde subiria palanque usando texto bíblico falando da verdade que liberta.

 

O texto começa assim: “O cadete – futuro oficial do Exército –, ao ingressar na Academia Militar das Agulhas Negras, recebe uma miniatura da espada de Caxias, declarando solenemente: ‘Recebo o sabre de Caxias como o próprio símbolo da honra militar’. Dentro dessa máxima é formado o oficial do Exército brasileiro”. O editorial destaca o culto a valores como honestidade, lealdade e amor à verdade. Na época, uma investigação concluiu que Bolsonaro e seu colega mentiram ao seu comandante. “Conscientemente (Bolsonaro e seu colega) faltaram com a verdade e macularam a dignidade militar”, diz o texto do Centro de Comunicação do Exército.

 

 

 

 

Supremo

 

Depois disso, o caso subiu ao Supremo Tribunal Militar (STM) e o capitão safou-se, apesar de laudos no processo atribuírem a ele autoria de croquis de bombas, como revelou mais tarde o jornalista Luiz Maklouf Carvalho. Inocentado, ganhou de volta o direito de ser chamado de militar ainda que a decisão judicial tenha sido na contramão do que defendera o Ministério do Exército de então.

 

O salvo-conduto do STM deu a Bolsonaro álibi para voltar a ser recebido nos quartéis. Mas demorou um pouco até que a porta da frente lhe fosse aberta. Por anos, o capitão era só o parlamentar pouco expressivo do baixo clero. Mas ganhou as ruas e as redes, virou um político pop e o único com musculatura para derrotar o candidato petista em 2018.

 

Naquele ano, tinha chegado ao generalato uma geração que ouviu o capitão-deputado gritar por melhores soldos enquanto o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso arrochava as contas. O mesmo fora ao plenário defender a morte do então presidente, mas, por conta da imunidade parlamentar e irrelevância política na época, não foi punido.

 

 

 

 

Café

 

Com Lula preso e o PT enlameado por denúncias de corrupção, Bolsonaro surfou direto para o Planalto. No fim daquele 2018, num café organizado no comando da Força, um general e três coronéis chamaram alguns jornalistas para conversar. Entre biscoitinhos e café adoçado a gosto, queriam medir até onde a imprensa vinculava Bolsonaro, recém-eleito, às Forças Armadas.

 

Ao ouvir de um dos convidados que os militares no governo Bolsonaro se equiparariam ao PFL dono da cadeira de vice de Fernando Henrique, levando ônus e bônus da gestão tucana, o general se irritou. Questionou como as Forças Armadas podiam ser comparadas com partidos políticos.

 

A operação da Polícia Federal do último dia 8 pode ser, para boa parte dos que viam Bolsonaro como Messias, perseguição política engendrada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Mas há quem considere lamentável para a imagem das Forças Armadas o fato de que ex-comandantes e oficiais-generais tenham recebido visita da PF por terem, de fato, flertado com um golpe sob inspiração daquele que um dia foi chamado de indigno pelo Exército.

 

Francisco Leali é coordenador na sucursal do “Estadão” Em Brasília




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